O menor esforço

A luta dos contrastes

"Trabalhamos sob determinadas suposições. Por exemplo: que o conhecimento seja possível'. (Nietzsche, Filosofia Geral)

O mundo é o caos. A lógica do mundo está em nós, não no mundo. A forma tem a aparência de algo durável, mas a forma é também um acomodamento que inventamos de acordo com a economia de nosso psiquismo.

Há uma ilusão em acreditarmos na intransitoriedade da forma ao observarmos a continuidade através das aparências constitucionais.

Há pequenas modificações que passam muitas vezes despercebidas.

Nós somos constrangidos a formar o conceito de espécie, de forma, de fins, de leis, buscando sempre as identidades pela lei psicológica do menor esforço, como pelo desejo de acomodar o mundo a uma forma adaptável à nossa existência, - o mundo que nos seja mais compreensível, em que não sejamos uma contradição.

Este desejo é o que explica a nossa ânsia de simplificação, por que temos o instinto de fugir ou de combater o desequilíbrio. Não vamos daí afirmar que o desequilíbrio seja a 'causa' de nossas insatisfações, ou pelo menos, a 'causa única', e que o desejo de equilíbrio seja o fim humano, embora seja um fim.

A luta contra o desequilíbrio, em busca do equilíbrio, quando este é alcançado, gera um novo desequilíbrio. Esse  é o aspecto dialético.

A razão, é uma síntese da atividade dos sentidos, é um acomodamento. Os racionalistas endeusaram-na, mas hoje, outros esfarraparam-na pela análise de sua gênese e de suas contradições.

Ela [a razão] é uma simplificação, uma sistematização, uma acentuação, uma interpretação limitada à perspectiva do momento.  [Trecho do Livro Vontade de Potência, I, página 30] 

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- COMENTÁRIO: 

Nietzsche deixa-nos uma valorosa lição neste curto texto, relativamente à nossa tendência de ACOMODAMENTO, DE IR PARA O LADO DO MAIS FÁCIL, DO MENOR ESFORÇO. O socialismo, o comunismo e todos os sistemas políticos e filosóficos já ultrapassados prometiam o céu com pouco esforço, pouco trabalho, pouco sangue e suor. 

Além disso, podemos observar essa tendência, para o menor esforço, em todas as áreas de nossa breve vida intrafísica. 

Exemplo, o povo acha que alguém algum dia irá salvar a pátria, o mundo, ou nos dará a receita do bolo, prontinha, mostrando como fazer para termos um mundo superior, feliz, etc. Nada mais cômodo? Não é?

Muito mais fácil um salvador, feito super-homem ou JC, ou Buda, ou qualquer outro, fazer o serviço pesado por nós, do que nós mesmos sairmos da nossa zona de conforto e transcender à nossa miserável, ilusória e acomodada racionalidade. 

De fato, só se chega a algo maior com muito trabalho, esforço, desacomodamento, coragem,, especialmente, trabalho cerebral, espiritual no sentido de usar todas as energias para algo maior. 

Tal como, só se atinge a Super-Razão, o além da racionalidade, O Realismo Verdadeiro, o Super-realismo, buscando a trabalhosa e difícil simplificação do mais difícil. 

Daí que muitos ficam pelo caminho à lamentar sobre a própria miséria humana e espiritual, agarrando-se a qualquer droga teórica ou prática superficial, das do tipo que prometem o paraíso sem esforço, sem trabalho, sem MÉRITO. Tais drogas existências racionalistas, fazem a alegria apenas dos acomodados e preguiçosos da vida. Simples assim. 

Os melhores e os mais fortes só se tornam melhores e mais fortes, pelo trabalho incansável utilizando as principais ferramentas de manifestação nesta dimensão: a mente, o corpo e a coragem. 


(Emerson Rodrigues)

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