Os idiotas confessos. Texto de Nelson Rodrigues (1968)
     LEIA O TEXTO COMPLETO AQUI    Os Idiotas Confessos           Nelson Rodrigues   Antigamente, o idiota era o idiota. Nenhum ser tão sem mistério e  repito: — tão cristalino. O sujeito o identificava, a olho nu, no meio  de milhões. E mais: — o primeiro a identificar-se como tal era o próprio  idiota. Não sei se me entendem. No passado, o marido era o último a  saber. Sabiam os vizinhos, os credores, os familiares, os conhecidos e  os desconhecidos. Só ele, marido, era obtusamente cego para o óbvio  ululante.     Sim, o traído ia para as esquinas, botecos e retretas gabar a infiel:  — “Uma santa! Uma santa!”. Mas o tempo passou. Hoje, dá-se o inverso. O  primeiro a saber é o marido. Pode fingir-se de cego. Mas sabe, eis a  verdade, sabe. Lembro-me de um que sabia endereço, hora, dia etc. etc.     Pois o idiota era o primeiro a saber-se idiota. Não tinha nenhuma  ilusão. E uma das cenas mais fortes que vi, em toda a minha infância,  foi a de uma autoflagelação. Um vizinho berrava, at...