LIVRO: RAUL SEIXAS E A FILOSOFIA. A ARTE DE SER UM MALUCO BELEZA

 



O texto é uma tentativa de filosofar com as músicas deste grande ícone do Rock Brasileiro Raul Seixas. 

 RAUL SEIXAS & A FILOSOFIA. A Arte de ser um Maluco Beleza  
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"Faz o que tu queres
Há de ser tudo da Lei"


[...] Fruto do mundo
Somos os homens
Pequenos girassóis
Dos que mostram a cara
E enorme
As montanhas
Que não dizem nada [...] 
                                              
(Raul Seixas/ Oscar Rasmunssem)


Filosofia? Os gregos entendiam que o amor ao conhecimento que tinham não podia ser mantido apenas para si, preservado, mas, aprofundado, transcendido, levado a todos os povos do mundo, similar ao que sucedeu com o helenismo.
Existe Filosofia hoje em dia? Sim e não. Sim, porque sempre existiu, existe e existirá, é um marco da evolução da espécie humana. Contudo, no Brasil existe uma tentativa de Filosofia e uma infinidade de imitações, reinterpretações e pensamentos desordenados, reflexo do caos que nasce dentro de cada um de nós. Uma miscelânea de superficialidades, crenças, tolices, baboseiras e títulos acadêmicos.
Além disso, atualmente qualquer um pode se considerar o que quiser... Mestre, Doutor, Pensador, Louco... Mas, não foi sempre assim? Na idade média, por exemplo, havia pessoas que se consideravam donas da verdade e acima da humanidade. E uma fórmula para uma vida mais ou menos duradoura era:

CRER = VIDA +- DURADOURA...
DUVIDAR = FOGUEIRA...

Simples! Não é mesmo? Contudo, hoje em dia não há mais INQUISIÇÃO? Atualmente há mais inquisidores ou inquiridores? Apesar de vivermos numa época de avanço da tecnologia, da ciência e da exploração espacial, Pensar, duvidar e discordar são coisas tão perigosas quanto o era na idade média... Ou seja, não há tanta liberdade como pregam os panegíricos da democracia contemporânea.
O fato é que Filosofar (Pensar) exige coragem, empenho, é algo prazeroso, mas ao mesmo tempo é algo trabalhoso, cansativo e oneroso. E, num país como o Brasil onde se despreza a educação e a cultura, num país em que se dá mais valor às bundas das ‘bonequinhas sorriso’ das TV´s, crendices e vulgaridades, uma das formas mais simples de Filosofar (Pensar) e fazer Filosofia é através de músicas como as de Raul Seixas e de outros artistas tão importantes quanto...
Na verdade, Filosofar é dar a cara à tapa... Por isso, há muitos dos que pensam, mas, poucos ‘dos que mostram a cara’...

 [...] Certa vez houve um homem
Comum, como um homem qualquer
Jogou pelada descalço
Cresceu e formou-se em ter fé
Mas nele havia algo estranho
Lembrava ter vivido outra vez
Em outros mundos distantes e assim acreditando se fez
E acreditando em si mesmo
Tornou-se o mais sábio entre os seus
E o povo pedindo milagres
Chamava esse homem de Deus
Há quantas ilusões
Nas luzes do arredor
Quantos segredos terá [...] 

(Um Messias Indeciso - Raul Seixas)

            Nada melhor que ir direto ao ponto. Jesus, único filho de Deus? Jesus, o juiz de todo planeta terra? Jesus, salvador do mundo? Vai salvar o mundo do que ou de quem? Jesus voltará no fim do mundo? Vai voltar a troco de que? Afinal, quem foi Jesus? O que ele fez de fato? Qual a sua contribuição para a humanidade? Ele inventou algo? Desenvolveu alguma ciência? Fundou alguma filosofia? Esses são alguns dos pensamentos que uma música simplória como essa pode provocar. Ademais, essa canção é uma tremenda opinião contrária e ao mesmo tempo uma verdade relativa. E como toda opinião contrária a da maioria ela tende a ser primeiro repudiada, depois, negada, e por último: queimada nas fogueiras da ignorância inquisitorial. Não estamos julgando a fé de quem quer que seja, afinal, todos são livres para fazer o que quiser e acreditar no que quiser e, também, como é o nosso caso, duvidar de tudo para compreender melhor. A música ‘Um Messias Indeciso’, nos ajuda a pensar sobre um assunto que ainda é tabu: pensar criticamente sobre a figura de Jesus Cristo. Ou pior, questionar sua vida e obra. Isso, para a maioria dos crentes, independente da crença que professam é uma afronta, um absurdo e uma heresia.
            No cristianismo, assim como em todas as correntes de pensamento infantis, a contradição e o desequilíbrio bailam de mãos dadas, disfarçando-se de verdade absoluta, inquestionável. O cristianismo, como diria Nietzsche é platonismo para o povo’ e, fazendo o que Platão não fez, travestiu uma espécie de radicalismo religioso, uma fé cega, um ressentimento, uma hipocrisia moralista em sabedoria, em ‘revelação divina’.
            Existe o ‘livre arbítrio’, a liberdade de escolha, mas, é uma ‘liberdade limitada’, uma ‘liberdade não livre’, uma liberdade do tipo: ‘você é livre para escolher, mas, se não disser ‘amém’, se não me aceita como seu salvador, seu senhor absoluto, conhecedor do passado, presente e futuro, criador e dono da tua alma, então não poderá entrar no paraíso. Essa baboseira está em tudo, em todos os níveis da alcunhada civilização ocidental. Está até nos aplicativos ditos ‘livres’ dispostos para download na internet, onde você pode baixar e fazer o uso que quiser, mas, se não concordar com os termos, não pode baixar! Ou seja, tal como ocorre com os programas ‘free’, no cristianismo você é livre para escolher ‘concordar’ ou ‘não concordar’, todavia, se não concorda não baixa. Ou seja, você pode não aceitar Jesus, porém, se não aceitá-lo não poderá ser salvo! É ou não é uma incomensurável tolice? Que inteligência suprema, causa primária de todas as coisas iria impor, reprimir e se contradizer?
            Numa das passagens dos evangelhos aceitos, ou seja, num dos quatro oficiais, Jesus diz:

“Digo-vos: todo o que me reconhecer diante dos homens,
também o Filho do Homem o reconhecerá diante dos anjos de Deus; mas quem me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus”.
Lucas 12:8-9

Ou seja, você é livre para não concordar. Todavia, segundo Jesus, deve saber que ao discordar de suas palavras não será reconhecido diante dos anjos de Deus. Esse tipo de afirmação não parece coisa de catequista fanático?
De duas uma, ou JC jamais falou isso, ou, os evangelhos estão mentindo. Nesse sentido, podemos imaginar que JC não é a pessoa que nos ensinaram desde crianças. Então, como seria JC na verdade?

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