LIVRO: UM DIABO QUE VIROU MULHER

(Fale com o autor pelo Email: grupokzcontato@yahoo.com.br ou Twitter, vide abaixo)

 

COMPRE O LIVRO NO:

 

UM DIABO QUE VIROU MULHER


Sobre a Obra

Esta obra é o contrário do que parece ser. É uma provocação àqueles que julgam um livro pela capa e ao mesmo tempo uma oportunidade de reflexão sobre os valores tidos como moralmente corretos, sobre os nossos conceitos e preconceitos, e sobre as várias faces da violência e da maldade representadas como amor ao próximo, igualdade, liberdade e fraternidade. Em suma, é uma indagação pesada e ao mesmo tempo divertida sobre a cultura e a decadência da humanidade em vários aspectos.
O texto também faz um resumo da filosofia platônica e ainda realiza um diálogo entre o "Diálogo Fédon de Platão" e o livro "Belfagor, o Arquidiabo" de Maquiável.
Algo mais... É o que esta obra pretende ajudar a encontrar. E também, esse texto, direto e reto, presta um tributo às mulheres que através dos tempos foram e ainda são violentadas, caladas e forçadas à serem cada vez mais o que não são.
Filosofia para todos, questionamentos dos valores, viagem ao desconhecido, é o que esta obra propõe.
Viajemos!


TEXTO
“Um Diabo Que Virou Mulher”

Adendo
Caro leitor e cara leitora, a dúvida é tudo.
É duvidando para entender melhor que aprofundamos o que sabemos e descobrimos que o que sabemos não é grande coisa.
Por isso, não acreditem em nada, muito menos no que lhes disser aqui, duvidem de tudo, sejam críticos, pensem e repensem.
Tenham vocês as suas próprias experiências pessoais. Libertem-se! Ou ao menos, abram as vossas mentes para a possibilidade de uma Liberdade Plena.
Livrem-se, mesmo que temporariamente, de toda ideia de bem e mal, certo e errado, santo e pecado, livrem-se de todo o preconceito e de todo espírito e sentido de doutrina ou dogma.
Penso que desta forma, poderão ver esse pequeno e singelo texto para além de 'mais um texto' em meio à milhões de abobrinhas espalhadas mundo afora.
Mesmo assim, não lhes prometo que esse texto, não se torne à luz de vossa razão, mais uma abobrinha entre milhares de abobrinhas...
Primeira Parte
O velho que diziam ser santo e sábio...
Faz tempo, havia um homem que diziam ser muito santo e sábio. Este, dito santo e sábio, subiu até as montanhas, onde ficou por quase setenta anos. Lá, em meio à mata, ele vivia um tipo de vida que poucas pessoas acostumadas com a comodidade, o conforto e a segurança da vida moderna poderiam suportar. Por que diabos ele fez isso? Só ele sabe.
Tratava-se de um homem sisudo, que desde criança amava os livros como amava uma boa cachaça artesanal com mel e limão. Excêntrico? muito!
Há tempos, O Velho, abandonara a vida na civilização, exausto de vê-la em comovente decadência, enxergando nela, além da crueldade berrante e a vaidade mórbida de seus líderes mentecaptos, o desenvolvimento incontido de uma forma patológica de materialismo, das várias formas de violência, da irrefreável e sempre crescente desigualdade social, da indelével falsidade e da histórica hipocrisia disfarçadas de igualdade, liberdade e solidariedade. De fato, 99,9% das pessoas desse mundo, aturam isso tudo com uma bizarra ignorância, naturalizando o absurdo, o intragável. Mas, O Velho? Não. Ele não. Se achava um alecrim dourado? Talvez.
Contudo, após estar muito tempo recolhido na mais tragicômica, dúbia, solipsista, sombria e excêntrica soledade, entre os animais, os surrados e velhos livros e os seus mais loucos e utópicos pensamentos, decidiu deixar, temporariamente, a recôndita caverna onde se exilara nas verdes montanhas para ver a cidade.
 Ao chegar até ela, deparou-se com muitas novidades. E vendo que as coisas estavam mudadas, num primeiro momento, feito uma criança, encantou-se além da conta.
Estava admirado com os prédios, com os telões e as propagandas pomposas, com os carros, o modo heterogêneo de se vestir das pessoas, as avenidas largas, as praças ornamentadas com estátuas de homens importantes da história citadina, colocados lá como modelos de santos ou deuses...
Ainda, admirou o vai e vem frenético, apressado e apático das pessoas absortas em seus mundos próprios e a beleza das mulheres, tão diferentes e ao mesmo tempo tão semelhantes entre si, esbanjando formosura, vaidade, jovialidade, sorrisos alegres...  
Excitado e deslumbrado, por um momento, tudo lhe parecia ser parte de um estranho e inconcebível paraíso...
Entretanto, olhando para debaixo de algumas marquises, especialmente, as das igrejas, seu semblante que outrora expressava certo entusiasmo, voltou a ser o do Velho homem sisudo e revoltado com o mundo, ao ver que mesmo num mundo moderno, promessa de uma Paraíso na Terra, onde a aparência do que é belo reluz mais do que o ouro, os andarilhos, os mendigos e os excluídos eram 'indispensáveis'.
Como assim? O Velho, lembrara que em algum dos tantos livros que leu, alguém já disse que é preciso existir os ‘antípodas’, àqueles diferentes e contrários, pessoas para quem nós apontamos o dedo indicador em riste e despejamos, com todo o nosso amor ao próximo, igualdade, fraternidade, religiosidade, espiritualidade, solidariedade, gratuitamente, os nossos mais nobres juízos morais, fundamentados em valores ditos certos e indiscutivelmente verdadeiros...
            E naquele instante, paradoxalmente melancólico, vendo aqueles seres sem nome, sem teto, sem sentido, sem esperança e em princípio ‘sem consciência de suas misérias’, na indigência de suas infelizes existências, misturados ao vai e vem ininterrupto dos ditos ‘escravos modernos’, onde, cada um quase personificava o Não-ser, aproximou-se de um deles e perguntou-lhe, como um alguém que nunca quer nada:

- Homem, que vida vive?  
Num repente, um homem magro, barbudo, cabeludo, cambaleante, todo zuado e de olhos fundos, ergueu-se da poça, uma miscelânea de água e urina que fazia rescender um odor indizível, olhou para O Velho e respondeu:
Mendigo - Puta que pariu! Mas que diabo? Que vida eu vivo? Vivo a que vivo e o que tem você a ver com isso? Acaso é da Polícia ou do Serviço Social? Não tenho medo não, ein? E vou logo te dizendo que vivo mais do que esses idiotas que correm para lá e para cá, sem saber onde vão chegar! Se é que chegarão a algum lugar! Eu não me preocupo com nada, nem com algum lugar, para mim tanto faz! Entendeu?
Ah! Mas pera lá, disse o Mendigo. Estou te reconhecendo! É aquele Velho louco que se acha santo e sábio, aquele que todos dizem ter cansado da sociedade e se retirado para as montanhas, pra viver com os bichos, acaso casou com uma mula? Como ousa sair de lá, vossa santidade? Se foi para lá, justamente, por desprezar tudo isso? Esse Paraíso na Terra?
O Velho - Como poderia me achar se já nasci perdido? Como poderia ser santo onde jamais existirá um Paraíso? Não sei dizer se estou louco, mas, se sou louco, isso, talvez o seja! E você?  O que é que faz aqui neste lamaçal? Dando-se ao luxo de ser chamado de miserável?
Mendigo - (ri como todos os bêbados aloprados e em tom de ironia, diz) Eu? Miserável? Pois te digo homem que se acha santo, se pareço um idiota como eles, então, sou o mais rico dos idiotas, por quê? Simples, tenho tudo o que preciso, tanto, que não preciso de nada, além disso, nem me importo com o que eles pensam. A única diferença entre eles, você e eu, é que eu fiquei aqui nesse lamaçal, perambulando, dormindo nas praças, debaixo das marquises, e você foi paras as montanhas, espalhando a mesma lama pela estrada que conduz até a serra... E eles, estão onde estão com suas coisinhas e suas vidinhas... Além do mais, aqui não preciso pagar impostos, não preciso pagar luz, água e nem a comida apesar de ser escassa... Por mais louco que lhe pareça, eu gosto de dormir ao relento, me causa uma profunda sensação de Liberdade, a única coisa que me causa algum temor é ser queimado vivo enquanto durmo bêbado, por alguma 'pessoa de bem', 'um cristão', 'gente de família', se é que me entende...
O Velho - Diógenes Laércio, do século XXI! Só que ainda está vestido!
Mendigo – Ninguém é o que parece ser. Agora, faço o papel de mendigo, mas também já li livros e também já fiz parte dessa desgraça, dessa burrice chamada sociedade, sabia? Além disso, saiba o amigo que não me recordo desse tal de Diógenes, mas lhe afirmo: ‘a miséria deste mundo por si só já é uma forma de violência...’. Além disso, veja esse bando de tolos apressados, esses escravos do relógio, eles não têm coragem para fazer o que querem, precisam de mim e de ti. Sim! Por isso somos indispensáveis, porque eles precisam de gente como nós, para mostrar às suas crianças que eles são alguém e nós somos ninguém, eles “o mar”, e, nós “um poço de água podre...”. Todos os dias passam por nós e dizem assim: olha lá o bêbado, olha lá o Velho vagabundo, aquele é mau, sujo, fedorento, louco, não presta! Se não quiser acabar como ele, meu filho, trabalhe, seja direito, de família e de bem! Dizem as formigas de suas pernas. Mas, e eles? O que são? Gente de sucesso? Super realizados na vida, né? Gente boa? Certinhos e santinhoss? Vão para o céu? Julgam-se mais importantes e úteis que nós, com seus trabalhos suas vaidades fúteis e seu consumismo burro! Não! Eu acho que não! Para mim, 'vossa santidade', são tolos que todos os dias vestem as suas fantasias, põem as suas máscaras, se escondem atrás das coisas que possuem, do status social que ostentam, e então, vivem um dia de mentiras de cada vez, ou, quando muito, alguns momentos de um idealismo sadomasoquista pseudo-religioso... E quando chega a noite, ah sim! Esses sonhadores de sonhos vazios, voltam para suas casas, para suas coisas, e atrás das grades que chamam de segurança, fazem de conta que o mundo é suportável, tragável, que tudo tende a melhorar e que um dia Jesus! Sim Chessus!!Ele voltará para salvá-los e tudo vai acabar bem no final! Assim, ‘convencem as paredes do quarto’ como diria, Raul Seixas, e dormem 'tranquilos' sabendo do fundo do peito que não era nada daquilo... Eu? Eu não tenho esse problema. Sempre digo a verdade, até quando minto! Me parece melhor ser sincero mesmo sendo um zé-ninguém aos olhos dos outros do que fingir ser um alguém que não sou diante de mim mesmo... E olha que estamos numa Pandemia, e muitos dessas 'pessoas de bem' passam por nós e dizem 'tanta genteboa morrendo e essas pragas coninuam vivas, só na base do Corote! Vacina pra quê pra essas tranqueiras?'. Pergunto a você, essa gente boa precisa de máscara? Já usam tantas máscaras! Estou louco? Sou um louco? Diga-me 'santidade'?
O Velho - Pudera a tua loucura se espalhar por toda essa cidade meu caríssimo Mendigo! Digo-te: parece-me que vivemos a “Era Ginecológica” fundamentada numa moral-logia chifrológica justificada justamente pelo modus vivendi!
Mendigo - Meu Deus! Mas que diabos é isso?
O Velho sorri e diz - Bom seria se pudéssemos aplacar a nossa sede e a nossa fome de tudo numa só conversa, num só momento, mas não há tempo, tenho de voltar para as montanhas...
Mendigo, com um olhar pensativo, diz - O tempo não importa. Só a vida importa!
O Velho sorri, respondendo - Como você mesmo diz: tanto faz!
Mendigo - É. Tanto faz!
O Velho imerso em pensamentos, olha nos olhos do mendigo e diz: Adeus.
Mendigo, reflexivo: Adeus louco amigo... Que Deus o acompanhe!
O Velho faz um sinal de agradecimento ao Mendigo, mas sem seu íntimo diz: Deus é um sacana que está longe demais para acompanhar qualquer coisa na Terra, se é que existe esse Deus que tantos afirmam existir.
Embora tenha se distraído ao conversar com o mendigo, não se demorou mais e resolveu voltar paras as montanhas. Estava ainda abismado com as mudanças, com a modernização de algumas coisas e a resistência de outras.
E lá foi o velho que todos o tinham como santo e sábio.
Rumando, imerso em pensamentos, e numa das estradas que conduziam até a serra, olhou para o lado oposto do bem organizado centro e avistou o outro lado da cidade.
Resolveu passar por uma das ruas da favela e não teve como não notar a discrepância ao observar o abismo social historicamente reinante, o morro, os barracos, as ruas esburacadas, a violência, as drogas, a prostituição, gente com fome, crianças sujas, velhos doentes, todos esquecidos pelos governantes, sem esperança de dias melhores, mas tocando a vida, do jeito que dá.
Então, perdeu o encanto de outrora e sem pestanejar, resolveu que nunca mais voltaria para ver aquilo e que terminaria seus dias na floresta, em meio aos animais.
Passando por uma biela para subir a uma parte elevada da rodovia movimentada, ao lado da favela, foi avistado por moradores que correram ao seu encontro.
As pessoas achavam-no demasiado diferente por viver nas montanhas, por andar sempre descalço vestido de uma túnica branca já muito surrada, manchada, e pela longa barba branca e pelo pedaço de madeira que trazia como uma espécie de cajado.
Desconfiado, apressou ainda mais os seus passos, os deixando para trás.
Ao tentar cruzar um sinal que tinha num pequeno cruzamento antes do asfalto que levava às montanhas, eis que surgiu um carro descontrolado, dirigido por jovens bandoleiros cuja nobreza de caráter se evidenciaria pelo ato que iriam cometer.
Avançaram o sinal vermelho e acertaram o velho que fora arremessado ao longe.
Sem prestarem qualquer ajuda, no melhor estilo canalha, cagando e andando, deram no pé sem sequer olhar para ver o que havia acontecido com o ermitão das montanhas.
O povo que corria para encontrá-lo viu tudo e correu para socorrer O Velho, todo lascado, e que sentira no íntimo quetodo zuado,  a dama de preto estava à caminho para buscá-lo...
E ali, mesmo ferrado pela dor, rodeado de curiosos, o pobre homem lembrava dos ensinamentos de Sócrates, O Filósofo, o qual afirmava que todo aquele que se dedicasse a uma vida virtuosa, trilhada na luminosa estrada da busca do saber que não se sabe, renunciando às paixões do corpo que corroem a alma, logo, teriam no outro mundo, uma sorte muito melhor do que a sorte daqueles que se dedicam a uma vida efêmera, às péssimas virtudes, sendo corruptos, maus e ignorantes.
E em meio à aquela dolorosa e vertiginosa agonia, com tempo para refletir, eis que surgiu um homem de uns trinta e três anos, com os cabelos longos e uma barba comprida, descalço.
Abaixou-se e segurou a mão do velho homem dizendo-lhe que tudo iria ficar bem.
Cabeludo: Você vai ficar bem! Dou a minha palavra de andarilho!
Velho - (pobre homem, protagonista de uma cena tragicômica, sorrindo dizia): “viver e rir de sí próprio, na incerteza do próximo minuto já é uma grande virtude. Não se importar se o próximo instante será bom ou mau e se acabará bem ou mal é uma grande façanha!”.  
Após alguns minutos, a ambulância que fora chamada por um dos moradores da favela que ficava ao lado da rodovia, chegou.



Contato com o autor
Pedidos de edição impressa e palestras: E-mail: eghus@hotmail.com ou grupokzcontato@yahoo.com.br
https://twitter.com/EmersonXIIILC

Todos os Direitos Autorais Reservados. Proibida a comercialização sem autorização expressa do autor. Para utilização não comercial, citar a fonte com o nome Terrestre ou Capellino do autor.


 

 


 

 


(SOBRE A IMAGEM PRINCIPAL NA POSTAGEM: A IMAGEM PRINCIPAL ACIMA É DE: Jonathan Wolstenholme, 1950 | The Surreal books Pubblicato da Tutt'Art Bihiku https://www.tuttartpitturasculturapoesiamusica.com/2012/12/Jonathan-Wolstenholme.html© Tutt'Art@  - - - SOBRE Jonathan Wolstenholme - é um pintor e ilustrador britânico mais conhecido por suas obras incrivelmente detalhadas decorrentes do amor de livros antigos. Books on Books é uma série de ilustrações em que o mundo do livro está sendo descrito pelos livros. Jonathan teve três exposição em Londres e exibiu na Exposição Singer e Friedlander várias vezes, também no Discerning Eye Competition nas Mall Galleries, ganhando um prêmio em 2002. BLOG SOBRE: https://www.pinturasdoauwe.com.br/2017/08/jonathan-wolstenholme-o-pintor-de-livros.html)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UM POUCO DE SÊNECA: "Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida"

Os idiotas confessos. Texto de Nelson Rodrigues (1968)

REENCARNADO - BREVES RELATOS DE UM DOS ÚLTIMOS CAPELINOS, EXILADO NO PLANETA TERRA