BANI X VUCA - as incertezas e a ansiedade como barreiras de transformação e melhoria do eu num mundo disruptivo
Segundo a Teoria BANI, as pessoas não estão mais inseguras como no mundo VUCA onde as coisas eram complexas e lineares, elas estão ansiosas num mundo caótico, tomado de incertezas, onde uma coisa dada como certa hoje de manhã, à noite já não é mais. Essa incerteza traz uma mega ansiedade e uma série de problemas psicológicos, sociais, morais, espirituais, humanos.
A grande falha, talvez, da Teoria BANI é dizer que as pessoas não estão mais inseguras como antes.
Como as pessoas não podem estar mais inseguras com guerra, pandemia, fome, miséria, desemprego?
Ou seja, as pessoas ainda estão inseguras e ansiosas, o que é pior, porque leva a um aumento no stress, no nervosismo e na violência somadas essas coisas ao fato do acúmulo criminoso de riquezas que gera a absurda bolha do mega abismo/distanciamento/descalabro social de injustiças e abusos criminosos.
Certamente, logo uma nova teoria para um novo conceito para compreender todos esses fatores e o mundo disruptivo no qual estamos.
Diferenças sutis: BANI X VUCA
"No conceito BANI, o entendimento é de que o mundo em que estamos vivendo é frágil e parte do princípio de que o que temos certeza hoje pode virar uma incerteza amanhã. Ou seja, é preciso considerar que uma situação favorável e positiva pode simplesmente tomar um outro rumo".
O termo BANI significa Brittle, Anxious, Nonlinear and Incomprehensible. Em português, podemos chamar de FANI: Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível. Tais adjetivos definem muito bem a realidade que vivemos, observe:
Brittle (Frágil)
No conceito BANI, o entendimento é de que o mundo em que estamos vivendo é frágil e parte do princípio de que o que temos certeza hoje pode virar uma incerteza amanhã. Ou seja, é preciso considerar que uma situação favorável e positiva pode simplesmente tomar um outro rumo.
Assim, o Mundo BANI pede que a gente esteja sempre preparado para enfrentar o imprevisível. A ter, sempre, uma carta na manga, uma saída para situações urgentes e extremas.
Anxious (Ansiedade)
A incerteza gera ansiedade. O senso de urgência tem pautado as decisões e isso acaba virando gatilho para desencadear sentimentos de tristeza e angústia. As pessoas estão trabalhando com uma margem de erro maior, porém, fazem uso de atitudes mais rápidas para aproveitar oportunidades.
Diante de tantas tragédias e notícias ruins, as pessoas têm se fechado em uma bolha para se manterem afastadas de tudo aquilo que causa algum sofrimento. É uma tentativa de criar a falsa ilusão de que cada um de nós tem controle sobre as coisas.
Nonlinear (Não linearidade)
Planejamentos a longo prazo podem não fazer mais sentido no Mundo BANI. Isso acontece porque várias ações estão em curso simultaneamente e, em um mundo não linear, nós não temos controle daquilo que está por vir.
Ao mesmo tempo é difícil ver as conexões entre diferentes coisas ou perceber que outros projetos e processos acontecem paralelamente ao nosso redor. É por isso que o Mundo BANI nos coloca em uma constante mudança, mostrando que, rapidamente, teremos que adaptar a forma como trabalhamos para fazer parte dessa nova realidade.
Incomprehensible (Incompreensível)
Não é de hoje que buscamos respostas para tudo, afinal, o que mais temos acesso hoje em dia são informações. Só que, por outro lado, montar uma estratégia baseada apenas em dados pode não ser sinônimo de sucesso, uma vez que mudamos de ideia o tempo todo.
Diante de uma realidade com tantas mudanças e acontecimentos, é fácil perder a conexão com a realidade e ter dificuldade em compreender o mundo em que estamos vivendo. O avanço tecnológico também fez a sua contribuição em diversas áreas e a sensação que temos hoje é que já não é mais possível entender a forma como as coisas funcionam.
Mundo VUCA x Mundo BANI: qual a relação entre os conceitos?
O termo Mundo VUCA não é novidade no mundo dos negócios. Contudo, precisamos explicar qual era o seu propósito para traçar um paralelo com o Mundo BANI.
Quando o conceito de Mundo VUCA foi criado na década de 1990, o mundo se encontrava em um cenário pós-guerra fria. Ele surge, então, do acrônimo formado pelas palavras em inglês: Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity. Em português, estudiosos o chamavam de VICA: Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade.
Esse conceito se resumia, basicamente, em um mundo onde múltiplas forças complexas podiam agir para transformar a sociedade de diferentes maneiras.
O Mundo VUCA ajudava as organizações a compreenderem que viver em uma realidade pautada em um pensamento linear, quadrado, perfeccionista e altamente detalhado não fazia mais sentido.
Olhando para a nossa realidade atual, é possível concordar com o que afirmam alguns estudiosos: o Mundo BANI é considerado a evolução natural do Mundo VUCA, pois reflete a realidade das sociedades após o início da pandemia.
“Um paralelo intencional com VUCA, BANI é uma estrutura para articular as situações cada vez mais comuns, nas quais a simples volatilidade ou complexidade são lentes insuficientes para entender o que está acontecendo”, defende Jamais Cascio, criador da terminologia em seu artigo oficial sobre o tema.
Ele ainda acrescenta que “situações em que as condições não são simplesmente instáveis, são caóticas; nos quais os resultados não são simplesmente difíceis de prever, e sim completamente imprevisíveis. Ou, para usar a linguagem particular desses frameworks, situações em que o que acontece não é simplesmente ambíguo, é incompreensível”, afirma.
Mundo BANI: vantagens e fraquezas
Ter ciência de que o Mundo VUCA passou para Mundo BANI nos permite reagir de forma diferente ao que acontece. Para Cascio, a estrutura BANI oferece uma lente para que a gente possa ver e estruturar o que está acontecendo no mundo. O acrônimo, por si só, sugere respostas úteis.
Por exemplo, no contexto de fragilidade, cabe a nós desenvolver a resiliência e a colaboração, inclusive com os nossos concorrentes. É preciso, ainda, trabalhar a diversidade em várias vertentes, como equipe, produtos, serviços e modelos de negócios, adotando estruturas mais distribuídas.
Sobre a ansiedade, cada um de nós precisa desenvolver meios para lidar com ela e podemos começar trabalhando a empatia, o mindfulness, a atenção plena, a segurança psicológica dentro das empresas, a escuta e até a vulnerabilidade. É uma oportunidade para abrir caminhos para a co-criação, pensando em cenários mais positivos.
Para lidar com a falta de compreensão, é preciso desenvolver algumas habilidades para conseguir navegar em tanta inconstância. São elas: transparência, ética, intuição, experimentação e “aprender a aprender”.
Já a não linearidade desperta a necessidade de termos mais flexibilidade. Para isso, é necessário estar disposto a enxergar outros caminhos para realizar nossas tarefas além do que já estava planejado.
Como a pandemia acelerou o Mundo BANI
O conceito de Mundo BANI foi criado em 2018, antes da Covid-19 existir. No entanto, a pandemia provocou uma transformação digital que fez esse acrônimo ter mais sentido, afinal, todos esses elementos estão relacionados e entrelaçados.
A primeira vista, o Mundo BANI pode até parecer mais assustador e sombrio se comparado ao Mundo VUCA. Mas, por outro lado, pode ser uma oportunidade para que as pessoas busquem agir com mais sentido, valorizando suas habilidades pessoais para melhor compreender essa realidade pós-pandemia.
E você, está preparado para viver nesse novo cenário?
(Com IEEP-Educação)
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CONSIDERAÇÕES
Em mundo Vuca ou Bani, crise é um chamado para mudanças. Os desafios nos obrigam a melhorar, a realizar transformações constantes; desenvolver competências e habilidades que contribuem para uma vida melhor é possível. Acolher quem somos hoje e projetar melhorias com desenvolvimento de pensamentos, sentimentos e atitudes é fundamental para nos colocarmos positivamente na vida.
As competências socioemocionais são um caminho no sentido de auto-observação, de reconhecimento, como um mapa para identificar onde estamos, uma bússola para nortear para onde vamos. Normalizar o conhecimento de competências cognitivas e socioemocionais serem um substrato conjunto da vida, abrir espaço para nomear emoções e quais as mensagens delas ao nosso corpo, reconhecer as necessidades, comunicar ao mundo com palavras ou ações que levem em consideração si mesmo, os outros e o meio. Somos seres integrados em todos os locais que atuamos, por isso a importância do desenvolvimento de tais competências nos ambientes acadêmicos e no mercado de trabalho como processo contínuo de vida.
Fazem com que sejamos flexíveis e entendamos que não existem modelos perfeitos para todos os possíveis cenários que podem acontecer, abrem espaço para a humildade, pois não somos deuses capazes de controlar tudo. Devemos desenvolver competências, habilidades e atitudes a fim de que nos auxiliem a focar no presente para evitarmos excesso de ansiedade, entendermos a responsabilidade de nossas ações pessoais e como podem influenciar outras pessoas e o meio, gerando mais empatia, pensando e agindo colaborativamente, buscando vários pontos de vistas possíveis, incluindo pessoas com crenças e culturas diversas, abrindo espaço para criatividade, prototipando soluções nunca pensadas antes, melhores do que fizemos até aqui.
Que seja um convite para melhorias individual e coletiva.
(Com Disciplina de Atividades de Extensão. Integração de competências para transformar o Eu. Curso de Filosofia Licenciatura, Cruzeiro do Sul, 2022).
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Referências
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Que a balança da justiça cósmica pese mais para o lado do bem e dos atos bons no final! Luz!