Sobre o suicídio

 



    Segundo a World Meters (https://www.worldometers.info/pt/) no mundo todo, quase 1 milhão de pessoas cometem suicídio todos os anos.
    É possível que esse número, que já é absurdo, seja muito maior já que muita coisa acaba sendo não comunicada e não registrada.
    Diversos pensadores já trataram desse tema ao longo dos tempos. Émile Durkheim (1858-1917), escreveu um livro sobre o assunto no qual diz, severamente, que a pessoa se mata, principalmente, por causa das imposições (fatos) sociais, sendo portanto, um fenômeno social e não individual.
    Durkheim também assevera que "na maioria das vezes, o indivíduo portador da ideia do suicídio quase sempre não sobrevive", isto é, que a maioria das pessoas que de fato tem a ideia de se matar, acabam, ao longo dos anos, indo e voltando com essa ideia e, por fim, se matam. Para o Durkeim, há, quatro tipos de suicídio:
- Egoísta -  (baseado na ideia prolongada de, mesmo inserido na sociedade, o indivíduo sofre, digamos assim, de um não pertencimento, e sente, mesmo estando na multidão, que não está conectado mais àquela realidade. O resultado desse sentimento de não fazer mais parte de lugar algum, é: falta de sentido da vida, apatia, melancolia,  depressão e, por fim, o suicídio).
- Altruísta - (essa tipo se baseia na crença de que o sujeito tem de estar totalmente absorvido pelos objetivos e crenças de um grupo, como os fanáticos e extremistas). De certa forma, se analisarmos a fundo, por falta de sentido na vida, o indivíduo se joga no fanatismo e no extremismo e vira um 'homem-bomba', uma 'mulher-bomba', por exemplo).
- Anômico - (esse tipo se fundamenta na ideia de confusão moral, do tipo 'não sei se vou ou se fico', e tem a ver com questões sociais, econômicas, financeiras, como o sujeito que quebra, vai à falência ou não consegue alcançar seus objetivos materiais e resolve se matar).
- Fatalista  -  (nesse caso, o sujeito se mata por viver num estado extremo de opressão, onde a sua vida, seus direitos e sua vontade são brutalmente censurados, tolhidos. Não vendo meios de escapar de tal situação extrema, o indivíduo se suicida).
    Para além das questões de extrema opressão, o que de fato leva o indivíduo a cometer o auto-extermínio? Sabemos, por exemplo, de pessoas bilionárias, que pareciam bem de vida, felizes, realizadas, famosas e de repente se matam? Será que para essas pessoas, embora tenham tudo e possam fazer tudo que quiserem, por isso mesmo, a vida perdeu a graça?
Round 6
    No último episódio da 1ª temporada da Série, Round 6, o velhinho que organizou tudo, o show de horrores, diz ao protagonista: "Sabe o que uma pessoa que não tem nenhum dinheiro e a pessoa que tem muito dinheiro tem em comum uma com a outra? Pras duas, viver não tem nenhuma graça. Quando a gente tem dinheiro demais, não importa o que a gente compre, coma, beba. Tudo perde a graça, afinal..."
        Mais adiante na cena, ele diz: 'então nós pensamos no que deveríamos fazer para nos divertir'.
    Albert Camus (1913-1960), no livro: 'O mito de Sísifo', diz: "Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida é responder uma questão fundamental da filosofia.", mais adiante ele fala: "Julgo, portanto, que o sentido da vida é a questão mais decisiva de todas. E como responder a isso?".
    Para Camus, as causas do Suicídio não são apenas sociais. Ele diz:
[...] "O suicídio sempre foi tratado somente como um fenômeno social. Ao invés disso, aqui se trata, para começar, da relação entre o pensamento individual e o suicídio. Um gesto como este se prepara no silêncio do coração, da mesma forma que uma grande obra. O próprio homem o ignora. Uma tarde ele dá um tiro ou um mergulho. De um administrador de imóveis que tinha se matado, me disseram um dia que ele perdera a filha há cinco anos, que ele mudara muito com isso e que essa história “o havia minado”. Não se pode desejar palavra mais exata. Começar a pensar é começar a ser minado. A sociedade não tem muito a ver com esses começos. O verme se acha no coração do homem. É ali que é preciso procurá-lo. É preciso seguir e compreender esse jogo mortal que arrasta a lucidez em face da existência à evasão para fora da luz. [...]
    Em resumo, o X da questão, sempre será sobre 'o sentido da vida'. Para você, a vida tem sentido? Qual é o seu maior motivo de viver?
    No livro, "Lutando com um Leão pra não morrer como um Veado", tratamos do sentido da vida, e no texto final, "Sobrevivendo às Merdas da Vida", sobre o suicídio e a superação da ideia de suicídio", asseveramos:  "Pior do que os que se suicidam são os que já estão mortos em vida, iludidos, ‘vivendo uma vida fake’, sendo aquilo que não são, nunca foram e nunca serão. Muitos são aquilo que não são, só para agradar a outros, para conseguir aprovação e também coisas, dinheiro, poder, status. ‘Coisas, sempre as coisas".
    Nietzsche, em, 'Crepúsculo dos Ídolos', diz que Sócrates era um 'auto-ludibriador', um decadente, um sujeito que estava 'doente' há muito tempo, 'cansado de viver', mas disfarçava bem. De certa forma, quando foi condenado à morte e obrigado a beber a Cicuta, Sócrates se sentiu aliviado, como se tivesse ganhado um prêmio, o suicídio.
    Assevera Nietzsche: [...] "A luz diurna mais cintilante, a racionalidade a qualquer preço, a vida luminosa, fria, precavida, consciente, sem instinto, em contraposição aos instintos não se mostrou efetivamente senão como uma doença, uma outra doença. - Ela não concretizou de forma nenhuma um retorno à "virtude", à "saúde", à felicidade... Os instintos precisam ser combatidos esta é a fórmula da décadence. Enquanto a vida está em ascensão, a felicidade é igual aos instintos. Ele mesmo compreendeu isso, este que foi o mais prudente de todos os auto-ludibriadores? Ele soube dizer isto por fim a si mesmo em meio à sabedoria de sua coragem diante da morte?... Sócrates queria morrer. Não foi Atenas, mas ele quem deu para si o cálice com o veneno. Ele impeliu Atenas para o cálice com o veneno... "Sócrates não é nenhum médico, falou ele silenciosamente para si mesmo: apenas a morte é aqui a médica... O próprio Sócrates só estava há muito doente..." [...] (in: Crepúsculo dos Ídolos).

    Logo, tudo o que Sócrates fez, especialmente, nos últimos anos de sua vida decadente, não foi ajudar a 'trazer à luz o melhor do ser humano', muito pelo contrário, agindo como suicida em pensamento, Sócrates ajudou a trazer uma visão decadente sobre o mundo e sobre a vida, e, para Nietzsche, essa visão suicida, decadente, cansada e moribunda do mundo e da vida que foi turbinada por Platão, que era fanático por Sócrates, seria o verme do coração do mundo ocidental, o cristianismo.
    De fato, as desilusões e as frustrações redundam em desesperança e um profundo sentimento de falta de sentido da vida. Mas, não é só isso. Há algo muito maior, sinistro, aparentemente inexplicável, que puxa o ser humano, na condição de vazio existencial, para baixo de vez.
    Podemos dizer, sem medo de errar, que a maioria da atual humanidade, já cometeu suicídio, já morreu e se encontra em um avançado estágio de putrefação mental, moral e espiritual. A maioria esmagadora da atual humanidade, de fato, vaga pelo mundo como fantasma ou como zumbi.
        Mas, o que nós como espíritos livres, realistas e de letras teríamos a dizer sobre o suicídio?  Cito trecho do início de nosso livro: Lutando como um Leão para não morrer como um Veado:
[...] "Acredite, esse Mundo cão como ele é, o Universo  e todo o resto já estavam aqui antes de você e continuarão sem você. Umas das primeiras coisas que todo aquele que pretende viver de boas e superar esse Mundo, deve enfiar na cabeça, é isso: 'você é importante mas não é tão importante quanto acha que é, e não tem nada de mais nisso'. O fato, incontestável, é que se você morrer daqui a cinco minutos ou amanhã, o Universo, esse Mundo cão, a vida como ela é, a humanidade como ela é, as pessoas que você ama e as pessoas que você detesta, o Zé do bar, os agiotas, a política enojante e a corrupção, as guerras, as doenças, as injustiças, o abismo social, o crime, a violência, o fanatismo, o apego doentio às coisas, o materialismo mórbido, o consumismo burro, o vazio da alma, os problemas pessoais, individuais e coletivos, todas as desgraças, a idiotice e a desumanização, as alegrias e as tristezas, o teu cachorro e o teu gato, até as suas contas, vão continuar sem você. O livre arbítrio sempre deverá ser respeitado. Quer se matar? Se mate. Quer se matar por Eutanásia? Quer se matar induzindo alguém a te forçar ao suicídio, para parecer que não foi um suicídio mas um ato de nobreza, como fez Sócrates? Se mate. Mas saiba que isso não vai mudar absolutamente nada no mundo e no Universo, porque por mais importante que você for enquanto ser pensante, ser espiritual em revolução e evolução, você não é tão importante quanto acha que é. Ou seja, suas dores, tristezas e alegrias são insignificantes diante da Imensidão Cósmica, da Incomensurabilidade da vida e da inefabilidade da Existência. E outra: Stephen Hawking, um dos maiores cientistas da humanidade depois de Einstein, talvez até mais importante que Einstein, teve a doença 'ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica)' aos 21 anos de idade, e no entanto, Lutando com um Leão, confrontou a doença e todos os gravíssimos problemas que ela trouxe, incluindo a sua incapacidade motora total, vindo a morrer aos 76 anos de idade, deixando um mega exemplo de dignidade humana e espiritual, sobretudo, uma incomensurável contribuição para a humanidade através de sua Ciência, a física teórica, notadamente os estudos sobre os buracos negros. Hawking, vale ressaltar, mesmo com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), foi casado duas vezes e teve três filhos. Um Leão, de fato! Um orgulho para todos os espíritos livres e realistas e de letras!
    Dessa maneira, com base no Livre Arbítrio, você pode se dar o direito de cometer suicídio, sim.  Contudo, você sabe, eu sei e todos sabemos, que na real, você pode se dar o direito, mas você não tem esse direito. Sobretudo, não enquanto existir pessoas em situação muito piores que as suas e que aguentam firme, apesar de todos os pesares". [...] 
    E, segundo as correntes espiritualistas, engana-se quem achar que após se suicidar, 'descansará em paz'. Não tem essa de 'descansou em paz, parou de sofrer' e outras bobagens que muitos imbecis dizem por aí. Se é certo o que diz a espiritologia, o estudo da Extrafísica, que muito provavelmente a vida continua, quem achar que o suicídio é a solução, terá uma grande surpresa e verá que, de fato, não tem escapatória, ou seja, não há como fugir da vida, dos problemas e dos desafios que inevitavelmente surgem.
    "Enquanto há vida, há esperança", dizia Hawking. Complementamos dizendo: "Enquanto há vida, há esperança e há problemas!". Ou seja, se a vida continua de alguma forma após a morte do corpo físico, não há escapatória, nem aqui, nem do outro lado. Logo, enfrentar, combater um bom combate, 'Lutar como um Leão pra não morrer como um Veado', é a única alternativa.
    Com isso, podemos concluir que o suicídio, de fato, é um ato de um espírito fraco e ignorante, que acha que pode se livrar dos problemas e das suas responsabilidades, como num passe de mágica. O espírito forte, que um dia também já foi fraco, mas se superou, evoluiu, se mantém no campo de batalha da vida, aos trancos e barrancos, com todas as fodeções da vida, mesmo passando mil e uma raivas com a maioria da humanidade em processo avançado de idiotização e sua deprimente sociedade injusta, miserável, desumana,  até seu último sopro de vida, só para não dar o gostinho aos grandes filhos da puta que nos rodeiam e, principalmente, aos desgraçados que se acham donos da cidades, dos Estados, dos Países e do Planeta! Se é certo que a evolução continua, extrafisicamente, quânticamente, de fato, todas as fodeções da vida intrafísica, por maiores, mais pesadas, mais difíceis, mais lazarentas que sejam, são só parte de um ínfimo momento diante da incomensurabilidade da vida na imensidão cósmica.
    E, para encerrar essa reflexão, é como diria um vilão da Liga da Justiça Sem Limites: "A vida toda é uma prisão e não tem como escapar da vida, seus burraldos!". E outra, lógica simples: cedo ou tarde, todos morreremos mesmo, então, para que a pressa? Não é?

Emerson
E-Kan
Filosofia Realista
Realismologia

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