Estamos num vazio cósmico, diz a Ciência
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Resumo: Pesquisas recentes apontam que a Terra pode estar localizada dentro de um gigantesco vazio cósmico, o que reforça questionamentos sobre a insignificância da existência humana no universo. Essa constatação dialoga com a crítica de Nietzsche à ilusão do conhecimento humano como algo central ou eterno, destacando sua efemeridade e futilidade no panorama cósmico. À luz do Princípio da Incomensurabilidade, formulado por E. E-Kan, evidencia-se que a realidade é desproporcional à capacidade humana de compreendê-la ou dotá-la de sentido. Assim, a hipótese científica do “vazio” torna-se metáfora e confirmação de uma verdade desconcertante: estamos literalmente num vazio, fadados à extinção e à irrelevância universal.
Pesquisas recentes em cosmologia sugerem que a Terra pode estar localizada dentro de um gigantesco vazio cósmico — uma região com densidade aproximadamente 20% menor do que a média universal e que se estende por cerca de 2 bilhões de anos-luz (OLHAR DIGITAL, 2025). Essa hipótese tem sido considerada uma possível explicação para o enigma conhecido como “tensão de Hubble”, que questiona a divergência entre diferentes medições da taxa de expansão do universo.
Contudo, para além das implicações astronômicas, tal descoberta convoca uma reflexão mais profunda e filosófica sobre o lugar da humanidade no cosmos. Como já advertira Friedrich Nietzsche em sua célebre obra Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral (1873), a invenção do conhecimento pelos seres humanos é um fenômeno efêmero, frágil e ilusório. Segundo Nietzsche:
“Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da ‘história universal’: mas também foi somente um minuto. [...] Houve eternidades, em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido” (NIETZSCHE, 1978, p. 32).
Aqui, Nietzsche desmonta a presunção antropocêntrica que posiciona o intelecto humano como eixo central da existência universal. Tal concepção é não apenas ilusória, mas também tragicômica, uma vez que atribui sentido eterno a algo que, na escala cósmica, é menos que um piscar de olhos.
Essa crítica nietzschiana encontra ressonância na formulação contemporânea do Princípio da Incomensurabilidade, proposto por E. E-Kan. Em sua reflexão:
“A mente humana busca nomear, medir e significar o que é, por definição, incomensurável. A imensidão cósmica é indiferente ao drama humano e a qualquer tentativa de ordenação simbólica. Toda busca por sentido universal está condenada ao fracasso, pois a própria escala da realidade escapa a qualquer possibilidade de captura pela linguagem ou pelo pensamento” (E-KAN, 2022).
Esse princípio radicaliza a constatação de que o ser humano não apenas não é o centro do universo, mas tampouco possui qualquer ferramenta real para compreendê-lo plenamente. O universo, enquanto realidade material e simbólica, permanece absolutamente incomensurável.
A evidência de que estamos literalmente dentro de um vazio cósmico reforça, assim, duas certezas perturbadoras: primeiro, a fragilidade ontológica e epistemológica da condição humana; segundo, a inevitabilidade da extinção — não como uma possibilidade distante, mas como um destino inscrito no próprio funcionamento da natureza e do cosmos. No final, como Nietzsche alertava e o Princípio da Incomensurabilidade confirma, o intelecto humano não passa de um breve suspiro em meio à vastidão indiferente do real.
___E. E-Kan
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Referências:
E-KAN, E. Princípio da Incomensurabilidade. Blog Ekan XIII. 2022. Disponível em: https://ekanxiiilc.blogspot.com/2022/08/principio-da-incomensurabilidade.html. Acesso em: 10 jul. 2025.
NIETZSCHE, Friedrich. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral. Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho. In: NIETZSCHE, Friedrich. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 30-38.
OLHAR DIGITAL. ‘Som do Big Bang’ sugere que a Terra está dentro de um enorme vazio cósmico. 09 jul. 2025. Disponível em: https://olhardigital.com.br/2025/07/09/ciencia-e-espaco/terra-pode-estar-dentro-de-um-vazio-gigantesco-no-universo/. Acesso em: 10 jul. 2025.
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Texto completo do Nietzsche:
Ele diz:
“Em algum remoto rincão do universo cintilante que se derrama em um sem-número de sistemas solares, havia uma vez um astro, em que animais inteligentes inventaram o conhecimento. Foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da “história universal”: mas também foi somente um minuto. Passados poucos fôlegos da natureza congelou-se o astro, e os animais inteligentes tiveram de morrer. – Assim poderia alguém inventar uma fábula e nem por isso teria ilustrado suficientemente quão lamentável, quão fantasmagórico e fugaz, quão sem finalidade e gratuito fica o intelecto humano dentro da natureza. Houve eternidades, em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Pois não há para aquele intelecto nenhuma missão mais vasta, que conduzisse além da vida humana. Ao contrário, ele é humano, e somente seu possuidor e genitor o toma tão pateticamente, como se os gonzos do mundo girassem nele. Mas se pudéssemos entender-nos com a mosca, perceberíamos então que também ela bóia no ar com esse páthos e sente em si o centro voante deste mundo. Não há nada tão desprezível e mesquinho na natureza que, com um pequeno sopro daquela força do conhecimento, não transbordasse logo como um odre; e como todo transportador de carga quer ter seu admirador, mesmo o mais orgulhoso dos homens, o filósofo, pensa ver por todos os lados os olhos do universo telescopicamente em mira sobre seu agir e pensar”.
(NIETZSCHE, Friedrich – Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral (1873) - Os Pensadores, Abril Cultural, 1978).
Imagem: Curiosity / X
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Que a balança da justiça cósmica pese mais para o lado do bem e dos atos bons no final! Luz!