Lembre-se disso quando olhar para as estrelas à noite...


Nos pegamos a lembrar de umas das falas sobre um dos personagens do filme Mad Max 1, Nightrider, bandido morto à quem os colegas de gangue dizem: "lembre-se dele quando olhar para o céu à noite".

A nossa reflexão aqui é sobre o mal que há nesse mundo. O que de certa forma tem a ver com o Nightrider já que ele fazia parte de uma gangue brutal e violenta, no filme.

Refletimos sobre o saco sem fundo do vazio da alma humana, um mal cada vez maior, fundamentado no apego doentio às coisas materiais, no consumismo absurdo, no materialismo mórbido, na ignorância e na fome de mais e mais que está a devorar o que resta da 'alma humana'.

Refletimos sobre temas já abordados em outras post´s nesse blog, sobre as tragédias e desgraças humanas, das crises fabricadas, a mega bolha do mega abismo social de injustiças e abusos criminosos, as mais variadas formas de violência e de brutalidade cada vez mas intensas e próximas de todos em toda a parte. 

E também, refletimos sobre o mal que, inevitavelmente, também está em nós, o mal que causamos a nós mesmos e a outros e o mal que outros nos causam, especialmente, aqueles que dizem nos admirar, amar ou respeitar ou 'querer bem'. 

É, inevitavelmente certo, que cedo ou tarde, em algum momento, alguém vai lhe enfiar a faca nas costas, assim como você também o fará a alguém. É inevitável, até Sócrates, Sêneca, Jesus, seus avós, o Zé do Bar e tantos outros tiveram um momento desses, e, é possível, que até o final de uma vida, ainda tenhamos que aturar mais de uma trairagem e coisas do tipo.

A questão é: qual será o tamanho do estrago, o tamanho da ferida, se ela fechará, cicatrizará ou se ficará entreaberta e, sobretudo, qual será a possibilidade de morte já em vida por um ferimento desses? Se isso vai te matar de vez ou te fortalecer após uns tragos em meio às mágoas afogadas? 

Muitos até se suicidam por causa do mal que há na humanidade e por causa das desgraças da vida, das trairagens e tudo mais, outros, como muitas mulheres histéricas e vingativas, arrancam até as calças dos homens no divórcio e os jogam na sarjeta do mundo para transarem em paz com as ilusões que acham serem 'o verdadeiro amor de suas miseráveis vidas e vice-versa', mas nós, os espíritos livres e realistas, os espíritos das letras, o que fazemos com essa merda toda? 

Sentimos a lâmina entrando, dilacerando, o sangue escorrendo, a pontada da morte, e à medida que tudo se esvai, como o sangue, depuramos, processamos, ruminamos, cuspimos fora e seguimos em frente, olhando para o abismo,encarando ele, sonhando com ele, fantasiando com ele, ou seja, olhando para trás, para todos os lados, mas seguimos em frente, como se todos fôssemos Bukowski em 'crônica de um amor louco' ou o Don Draper de Mad Men ou o Max "Mad" Rockatansky de Mad Max ou ainda, seguimos em frente como O Quasímodo, Jean Valjean, Gilliatt ou Gwynplaine de Victor Hugo, antes que a Dama de Preto nos beije na boca. 

Sim, às vezes, para suportar esse mundo humano tosco é preciso ser louco de verdade. No "bom sentido".

Assim, após quase quatro décadas de existência (que para mim parecem 300 anos) nesta dimensão da realidade, chego à conclusão de que "quase tudo" nesse mundo é ilusão, faz de contas, sem sentido, ruim, perverso, nefasto, brutal, bizarro, medíocre, superficial, idiota, tosco, tragicômico. Mas, nem tudo.

Como disse, "quase tudo". 

Isto significa que, mesmo nesse mega umbral que é a vida humana na Terra, ainda há, por mais incrível que pareça, para a nossa tragicômica sorte, pequenas grandes coisas que nos permitem suportar a vida intrafísica como ela é, nua e crua, quente e fria ao mesmo tempo, sem sentido e, ao mesmo tempo, em contínua tentativa de construção de um sentido, sobretudo, suportar os muitos imbecis que perambulam por aí, desde um vizinho insuportavelmente idiota aos macacos falantes politicopatas, corruptopatas, mafiosos, terroristas e criminosos em geral com grana, aqueles seres bizarros que se acham donos das cidades, Estados, Países e do Planeta Terra. 

Chego à conclusão, nessas quatro décadas, sobretudo diante da ignorância brutal para toda parte, que nada disso vai mudar, não para melhor, mas sempre para o pior, com alguns momentos de ilusão de estabilidade e de melhoria. Tudo assim será, tosquice e mais tosquice, entre tragédias e comédias, até que a humanidade seja varrida do mapa sideral, como os dinossauros ou a Terra seja detonada, o que acontecer antes.

Sempre que me pego 'fulo' com a tosquice humana e a minha própria tosquice e refletindo sobre elas, principalmente, à noite, vou ao fundo do quintal e olho para as estrelas e concluo, de vez, que: 'diante da Imensidão Cósmica, da Incomensurabilidade da Vida e da Inefabilidade da Existência', tudo isso, isto é, toda a tragicomédia humana na Terra, é menos que poeira cósmica ao vento sideral, parafraseando com a canção 'Dust in the wind, de Kansas'

Quer ver como isso é verdade?  Observe quanto estamos correndo grande risco de vida, à beira da morte ou quando as raríssimas pessoas que importam ou bichos de estimação morrem ou estão para morrer.  Todos os problemas, todas as diferenças, toda a raiva, ressentimento, todas as brigas, as tosquices, as idiotices, enfim, todas as coisas se tornam sem sentido. Tudo, de fato, se torna infinitamente pequeno, como mera poeira cósmica ao vento.

Menos que mera poeira cósmica ao vento sideral...

Lembre-se disso quando olhar para as estrelas à noite.

Emerson

E-Kan

Realismologia, 2022  

__---____________

Dust in the wind/Kansas 

 

 

PARA AS NOVAS GERAÇÕES QUE POUCO OU NADA OUVIRAM FALAR DE MAD MAX 1, 2, 3 E SÓ VIRAM O REMAKE INFELIZ DE MAD MAX, A ESTRADA DA FÚRIA, VIDE CENA:

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

UM POUCO DE SÊNECA: "Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida"

Os idiotas confessos. Texto de Nelson Rodrigues (1968)

REENCARNADO - BREVES RELATOS DE UM DOS ÚLTIMOS CAPELINOS, EXILADO NO PLANETA TERRA