"Non fuit in solo Roma peracta die"
Roma não se fez num dia, diz a frase em Latim.
Uso essa expressão para ressaltar que o Ser em si não se faz da noite para o dia, sobretudo, o ápice do Ser e si, numa vida, não se atinge 'do nada', é uma construção contínua, uma construção que também tem destruição, bagunça, ajustes, como numa obra.
Para alguns, o ápice de uma vida só ocorre após os 40 anos de idade. Antes dos 40, a vida é uma juventude que parece sem fim. Não significa que após os 40 a juventude, entendida como força vital, acabe. Pelo contrário, é dessa idade em diante que a força vital é usada de maneira mais inteligente e eficaz. É dessa idade em diante que, os que aprenderam, evoluíram e se tornaram melhores com suas experiências e vivências, saboreiam as coisas desde a essência ao máximo de seu potencial. Depois dos 40 é que a vida começa a ser saboreada de fato. (Imagem: "Relógio", de Jacek Yerka)
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OS MEDALHÕES COMO DIRIA MACHADO DE ASSIS:
A maioria esmagadora dos bilhões dos animais pensantes deste mundo cão chegam aos 50 anos de idade, quando chegam, da mesma maneira que começaram, quase sem nada, nem esperança mais. E, claro, há alguns raros que se recusaram a ser meros cachorros abandonados, e como verdadeiros Leões, conseguem chegar nas idades maiores, com muita coisa na cabeça, muita informação, conhecimento, 'sabedoria', experiência de vida, sabendo reconhecer tudo a distância, despertos o suficiente para saberem 'os pulos do gato', e, assim, vividos de verdade, estão aptos, prontos para 'liberarem todo seu poder oculto', toda a sua genialidade e vencer diante de si mesmo e até do mundo, talvez. Esses raros só começam a brilhar de verdade após os 40 anos de idade, dos 40 aos 60 anos. Essa, parece ser 'a melhor idade' de todo e qualquer ser pensante, dotado de alguma genialidade e com alguma condição capital para tal.
Machado de Assis, escreveu um texto chamado, 'Teoria do Medalhão', e nele diz o seguinte:
[...] Não te ponhas com denguices, e falemos como dois amigos sérios. Fecha aquela porta; vou dizer-te coisas importantes. Senta-te e conversemos. Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti. Vinte e um anos, meu rapaz, formam apenas a primeira sílaba do nosso destino. Os mesmos Pitt e Napoleão, apesar de precoces, não foram tudo aos vinte e um anos. Mas qualquer que seja a profissão da tua escolha, o meu desejo é que te faças grande e ilustre, ou pelo menos notável, que te levantes acima da obscuridade comum. A vida, Janjão, é uma enorme loteria; os prêmios são poucos, os malogrados inúmeros, e com os suspiros de uma geração é que se amassam as esperanças de outra. Isto é a vida; não há planger, nem imprecar, mas aceitar as coisas integralmente, com seus ônus e percalços, glórias e desdouros, e ir por diante.
- Sim, senhor.
- Entretanto, assim como é de boa economia guardar um pão para a velhice, assim também é de boa prática social acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem, ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição. É isto o que te aconselho hoje, dia da tua maioridade.
- Creia que lhe agradeço; mas que ofício, não me dirá?
- Nenhum me parece mais útil e cabido que o de medalhão. Ser medalhão foi o sonho da minha mocidade; faltaram-me, porém, as instruções de um pai, e acabo como vês, sem outra consolação e relevo moral, além das esperanças que deposito em ti. Ouve-me bem, meu querido filho, ouve-me e entende. És moço, tens naturalmente o ardor, a exuberância, os improvisos da idade; não os rejeites, mas modera-os de modo que aos quarenta e cinco anos possas entrar francamente no regime do aprumo e do compasso. O sábio que disse: "a gravidade é um mistério do corpo", definiu a compostura do medalhão. Não confundas essa gravidade com aquela outra que, embora resida no aspecto, é um puro reflexo ou emanação do espírito; essa é do corpo, tão-somente do corpo, um sinal da natureza ou um jeito da vida. Quanto à idade de quarenta e cinco anos...
- É verdade, por que quarenta e cinco anos?
- Não é, como podes supor, um limite arbitrário, filho do puro capricho; é a data normal do fenômeno. Geralmente, o verdadeiro medalhão começa a manifestar-se entre os quarenta e cinco e cinqüenta anos, conquanto alguns exemplos se dêem entre os cinqüenta e cinco e os sessenta; mas estes são raros. Há-os também de quarenta anos, e outros mais precoces, de trinta e cinco e de trinta; não são, todavia, vulgares. Não falo dos de vinte e cinco anos: esse madrugar é privilégio do gênio.
- Entendo. [...] (Teoria do Medalhão, Machado de Assis).
Nós dizemos: somente os despertos de verdade, os Leões de verdade, que lutam como Leões de verdade, em todos os sentidos e todos os campos da vida, é que conseguem chegar aos 40,45,50,60 anos de idade sendo Leões Medalhões, sendo, em todos os campos da vida, melhores ou pelo menos, menos piores, diante de si mesmos e do mundo cão. (TRECHO DO LIVRO: LUTANDO COMO UM LEÃO PRA NÃO MORRER COMO UM VEADO).
MAIS SOBRE A FRASE
Diz o blog: Mitologia
[...] A versão mais antiga que conseguimos encontrar provém de uma obra francesa do século XII chamada Li Proverbe au Vilain, em que pequenos poemas são seguidos por uma expressão popular. Entre elas conta-se a seguinte sequência digna de nota:
Mainz hon est si hastis,
Quant rien a entrepris,
Tantost veut a chief traire;
Le suen despent et gaste
Et si pert par sa haste
Le plus de son afaire.
Rome ne fu pas fait toute en un jour,
ce dit li vilains.
Traduzir o poema em si não é tarefa fácil, mas o que nos importa são os dois últimos versos, em que é dito que "Roma não foi feita toda num dia, isso diz o camponês". Por aí se compreende que esta era uma expressão popular, usada entre as populações da época, de onde foi chegando aos nossos dias.
No entanto, há um elemento que falta nesta expressão - de onde vem a referência a Pavia, possivelmente em alusão a uma pequena cidade do norte de Itália? Não parece fazer muito sentido, excepto se tivermos em conta a necessidade de fazer toda a expressão rimar, o que torna mais fácil relembrá-la; assim, ela foi introduzida na versão portuguesa do provérbio original para dar uma rima à palavra "dia", não se pretendendo, naturalmente, equipará-la à grandeza da Cidade Eterna.
Independentemente da sua forma, a expressão que entre nós ficou conhecida como Roma e Pavia não se fizeram num dia tem um só e o mesmo significado - as coisas grandiosas não são fáceis nem rápidas de fazer, requerem tempo e esforço.
Comentários
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Que a balança da justiça cósmica pese mais para o lado do bem e dos atos bons no final! Luz!