As crianças como alvos dos algoritmos das redes sociais


Introdução

As redes sociais têm mecanismos algorítmicos sofisticados projetados para capturar atenção e moldar comportamentos, mesmo em idades precoces, resultando em um processo cultural de desumanização — o que a Teoria da Humanidade Zero descreve como “idiotização coletiva” (E-KAN, 2022).

Impactos na saúde mental e no comportamento

Revisões amplas e meta-análises modernas mostram que os efeitos do uso de redes sociais sobre saúde mental adolescente são, em geral, pequenos, mas presentes e persistentes em determinados contextos e representações (Valkenburg; Meier; Beyens, 2022) BioMed Central. Um estudo com adolescentes de comunidade clínica e não clínica identificou correlação entre uso de redes sociais e sintomas internalizantes, como depressão e ansiedade (Fassi et al., 2024) JAMA Network.

Vulnerabilidade neurológica ao reforço intermitente

A plasticidade cerebral durante a adolescência coloca essa faixa etária em particular vulnerabilidade. Adriana Galván, pesquisadora consagrada, aponta que o circuito estriado mesolímbico (recompensa) amadurece antes do córtex pré-frontal (controle executivo), criando uma assimetria explorada por reforços no estilo “roleta”— equacionando estimulação digital à sensações de antecipação e compulsividade (W, 2025).
Outra base teórica fundamental vem da biologia do comportamento: Kent Berridge e Wolfram Schultz, respectivamente por suas teorias sobre "wanting/liking" (sensibilização da motivação) e sinais de recompensa mediante erro de previsão, oferecem a compreensão profunda de como o sistema dopaminérgico codifica estímulos imprevisíveis com poder de dependência (W, 2025).

Manipulação algorítmica e polarização informacional

A dinâmica de bolhas informativas e polarização tem sido bem descrita por estudiosos como Uthsav Chitra e Christopher Musco, que, com modelos matemáticos, mostraram como mecanismos de filtro de conteúdo — mesmo mínimos — podem formar câmaras de eco e amplificar polarização arXiv. Filippo Menczer e colaboradores demonstraram o impacto de bots e campanhas coordenadas na amplificação de conteúdos de baixa credibilidade e manipulação informacional — especialmente através de suas ferramentas Hoaxy e Botometer (W, 2025).

Considerações finais

As evidências convergem para uma influência real, ainda que heterogênea, do uso precoce e intenso das redes sobre o desenvolvimento emocional e cognitivo infantil, sobretudo pela interação entre vulnerabilidade cerebral e estratégias algorítmicas de manipulação. A re-humanização da comunicação digital — como defendida pela Filosofia Supra Realista de E-Kan — requer a promoção de uso consciente, crítico e educativo dessas tecnologias.


 Pensando o problema de maneira mais detalhada com um trecho do livro "As Redes Umbrais Sociais", de E. E-Kan:

As crianças são os principais alvos dos algoritmos idiotizantes das Redes Umbrais Sociais, como já apontado em obras como Teoria da Humanidade Zero e As Redes Umbrais Sociais. As Big Techs — gigantes da tecnologia que controlam essas redes — aprimoram continuamente seus algoritmos para capturar a atenção e manipular a mente dos usuários desde as primeiras idades, perpetuando um processo de idiotização e desumanização da humanidade, que chamamos de “Humanidade Zero”. 

Estudos recentes da Universidade de Oxford e da Universidade de Cambridge mostram que crianças e adolescentes passam, em média, mais de 3 horas diárias nas redes sociais, com impacto direto sobre a saúde mental, o desenvolvimento cognitivo e as habilidades sociais. Pesquisas publicadas na Nature Communications e na revista JAMA Psychiatry apontam que o uso excessivo de redes sociais está correlacionado com sintomas de ansiedade, depressão, dificuldade de atenção e até mudanças na estrutura cerebral — especialmente nas regiões do córtex pré-frontal, responsável pelo controle executivo, tomada de decisões e regulação emocional. 

Os algoritmos dessas plataformas são projetados para maximizar o tempo que o usuário permanece conectado, utilizando técnicas de “reforço intermitente”, semelhantes aos mecanismos de vício em jogos de azar, gerando dependência comportamental. Essa “algoritmia do caos” explora os vieses cognitivos humanos, como o efeito da confirmação e a tendência à polarização, alimentando bolhas de informação e aumentando a fragmentação social. Em crianças, que ainda estão em fase de desenvolvimento neurológico, o impacto é ainda mais grave, comprometendo a capacidade crítica e o equilíbrio emocional. 

Essa manipulação sistemática é sustentada pelo modelo econômico baseado em monetização de dados e publicidade, que gera lucros bilionários para as Big Techs — controladas por uma elite concentrada que detém poder quase absoluto sobre a comunicação global. Segundo relatórios da ONG Data for Good, em 2023, mais de 70% do conteúdo consumido nas redes sociais é influenciado por algoritmos que priorizam engajamento por meio de emoções negativas, como medo, raiva e indignação. 

Por isso, a responsabilidade recai diretamente sobre pais, educadores e toda a sociedade, que devem se conscientizar do perigo que essas tecnologias representam se usadas de forma indiscriminada e sem critérios. O uso estritamente racional e útil da internet e das redes sociais não é uma simples recomendação moralista, mas um imperativo para garantir a saúde mental, a capacidade crítica e a sobrevivência da espécie humana em seu estado mais evoluído. A realidade mostra que a maior parte da humanidade já está em estágio avançado de “putrefação mental, moral e espiritual”, alimentada por esse sistema algorítmico perverso, que prioriza o lucro imediato através da exploração do pior lado humano: a polarização, o ódio, o sensacionalismo, a desinformação e o absurdo naturalizado. Isso gera uma população amplamente incapaz de pensar criticamente e de reagir às injustiças, à miséria social e às ameaças ambientais que se avolumam. A esperança ingênua de que as novas gerações naturalmente reverterão esse quadro está equivocada. 

As Big Techs investem bilhões para “capturar mentes” desde cedo, explorando a negligência e a falta de preparo dos pais e educadores. Enquanto a população mundial cresce — quase 8 bilhões de habitantes, com milhões nascendo diariamente —, a idiotização se espalha em ritmo acelerado, sustentada pelo modelo econômico das plataformas digitais, que lucram com a perpetuação do caos, da divisão e da desinformação. A urgência, portanto, é a re-humanização da humanidade, proposta pela Filosofia Supra Realista de E-Kan. Essa re-humanização depende do estabelecimento do uso racional, consciente e produtivo das tecnologias digitais, combatendo a algoritmia do caos e seus mecanismos de manipulação e monetização obscena. 

Os já despertos precisam ocupar o espaço digital para promover conteúdos que esclareçam, eduquem e incentivem o pensamento crítico e a evolução espiritual e intelectual. As crianças são a última esperança real para um futuro diferente. São o principal foco dos “Senhores da Escuridão”, que manipulam as redes para manter a humanidade presa a um ciclo vicioso de idiotização e servidão mental. 

Portanto, pais, educadores e responsáveis devem assumir a tarefa de instruir os jovens sobre os perigos reais das redes, conscientizando-os desde cedo sobre o uso positivo, racional e ético da internet. A proteção das crianças contra a exploração predatória das Big Techs é vital para interromper o avanço da desumanização da humanidade através do projeto nefasto que nós chamamos aqui de "Humanidade Zero". 

Caso contrário, o ciclo se repetirá e se intensificará, abortando qualquer possibilidade de uma humanidade verdadeiramente re-humanizada. Nesse cenário, o papel dos conscientes é insubstituível: combater a ignorância que aprisiona as mentes dos jovens e os torna vulneráveis a crimes reais, como a exploração sexual, o tráfico e a manipulação ideológica. Essa luta deve ser baseada no esclarecimento, pois não há salvação sem ele.

E. E-Kan 


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Referências:

  • BERRIDGE, Kent C.; ROBINSON, Terry E. What is the role of dopamine in reward: hedonic impact, reward learning, or incentive salience? Brain Research Reviews, v. 28, n. 3, p. 309–369, 1998.

  • E-KAN. Teoria da Humanidade Zero. São Paulo: Supra Realista, 2022.

  • FASSI, Luisa et al. Social media use and internalizing symptoms in clinical and community adolescent samples: a systematic review and meta-analysis. JAMA Pediatrics, v. 178, n. 8, p. 814–822, 24 jun. 2024.

  • GALVÁN, Adriana. Adolescent development of the reward system. Frontiers in Human Neuroscience, v. 4, p. 6, 2010.

  • SCHULTZ, Wolfram; DAYAN, Peter; MONTAGUE, Peter R. A neural substrate of prediction and reward. Science, 1997.

  • VALKENBURG, Patti M.; MEIER, Amanda; BEYENS, Ine. Social media use and its impact on adolescent mental health: an umbrella review of the evidence. Current Opinion in Psychology, v. 44, p. 58–68, abr. 2022.

  • CHITRA, Uthsav; MUSCO, Christopher. Understanding Filter Bubbles and Polarization in Social Networks. arXiv:1906.08772, 2019.

  • MENCZER, Filippo et al. Estudos sobre bots e manipulação informacional (via Botometer e Hoaxy), E.g., durante a eleição dos EUA de 2016

     KAN, E.E. As Redes Umbrais Sociais. Uiclap/Freuco Livros, 2025, 3ª edição. 

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